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Você já reparou que os palavrões em português e em inglês normalmente têm conotação sexual? Isto faz com que eles sejam parecidos nas duas línguas. Se você ouve um palavrão em inglês, ele realmente soa como um palavrão para você.

O engraçado aqui no Québec é que os palavrões não têm nada a ver com os nossos. A origem deles está em termos religiosos (da igreja católica).

Como mencionei no post A Festa Nacional do Québec… e um pouco de história, a Revolução Tranquila, na década de 60, marcou a ruptura da sociedade nos âmbitos cultural, político e social. E com a religião não foi diferente. Até a década de 1960, a igreja católica exercia fortíssima influência sobre o governo e a sociedade québécoise. Com a Revolução Tranquila, a população e o governo romperam com a igreja. Isto fez com que termos religiosos passassem a ser usados como “palavras feias”, ou seja, palavrões.

Ao longo dos anos, estas palavras foram sofrendo pequenas variações e se fortalecendo no “vocabulário” do Québec. Hoje algumas dessas palavras são palavrões extremamente horrorosos, daqueles para uma mãe deixar o filho de castigo por uma semana por ter deixado escapar algum deles.

Um bom exemplo é “Tabarnak”. Este é provavelmente um dos “mais horríveis” que existe por aqui. Ele vem da palavra Tabernacle, que significa tabernáculo. Ora, para nós tabernáculo não é ofensa nenhuma. É apenas uma palavra comum no cristianismo. Mas aqui é um termo muito vulgar, usado para reclamar de algo ou alguém ou ainda enfatizar algo muito ruim. Para amenizá-lo e torná-lo menos vulgar, existem variações “aceitáveis”, como Tabarnouche ou Tabarouette. Estes mais leves são o equivalente ao nosso “caramba”, que em português também é uma versão mais leve de outro que você já deve ter imaginado e que será então o equivalente ao Tabarnak.

Além desse, existem vários outros relacionados ao cristianismo.

Crisse! : vem de Christ (Cristo)

Osti ou Esti: vem de hostie (Óstia)

Câlice ou Calisse: vem de calice (cálice)

Sacrament: vem de sacrement (sacramento)

Estes são os principais. O único que se ouve com certa frequência e que não é ligado à religião é merde, que dispensa tradução.

Na verdade isto não quer dizer que os québécois não sejam cristãos. Boa parte é. Esses palavrões existem há 50 anos e sofreram suas modificações em relação às palavras originais, de forma que as pessoas nem param para pensar que são palavras de origem religiosa. Falam e pronto.

É engraçado pois estas palavras não significam nada para nós. Aí às vezes alguém solta um tabarnak numa frase e logo em seguida se desculpa “ops, desculpe meu vocabulário”.

Então, por via das dúvidas, melhor não conversar sobre tabernáculos por aí com qualquer um. E desculpem os palavrões deste post. 😉