Depois de 6 invernos, finalmente nos tornamos cidadãos canadenses!

Neste semana participamos de cerimônia de entrega do certificado de Cidadão Canadense.

Confesso que fiquei emocionado com este momento. Não por pensar em coisas como “o país que nos acolheu, blablabla…”, mas por lembrar de tudo o que passamos para chegar até aqui.

(Lembrei agora daquela música do Cidade Negra: “Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui. Percorri milhas e milhas antes de dormir, eu não cochilei. Os mais belos montes escalei. Nas noites escuras de frio chorei.”)

É impossível contar para qualquer um, mesmo para os mais próximos, tudo o que um imigrante passa. É muita coisa, são muitos desafios. Isso porque nunca tivemos dificuldades financeiras… mas alguns têm.

Primeiro que são muitos anos de sonhos, pesquisas, preparativos, cursos, gastos, documentos.

Tem a etapa de contar para a família, o que para alguns é super difícil.

A hora de pedir demissão. A hora de se desfazer de tudo o que você conquistou…

Depois vem o momento da partida e, consequentemente, da despedida.

A chegada.

Os primeiros dias no novo país são pura alegria. Por algumas semanas você é um turista residente. Muitas descobertas. Mas também é preciso ir atrás de documentos.

As primeiras semanas, talvez meses, são de muita insegurança com relação à língua. As coisas mais bestas, como passar num caixa de supermercado, dão muita insegurança. A pessoa pergunta algo e você não entende. Aí fica com cara de besta. Lembro uma vez no caixa a mulher me perguntou alguma coisa e eu não entendi. Mas eu já estava preparado, sabia que eles sempre perguntavam se eu tinha o cartão de fidelidade. Então respondi “não”. Mas na verdade ela tinha perguntado se eu ia pagar no cartão ou no dinheiro. Fiquei com cara de tacho.

Fazer um simples ligação para marcar um horário é super complicado.

Tem uma fase então de ir atrás de coisas pra fazer, enquanto você não trabalha. Como o curso de francisação, que também dá uma bolsa mensal.

Vem então o tão temido primeiro inverno. E ele é muito pior do que a gente pensa. No nosso caso, frio acima da média logo de cara (-42 graus). Até então eu tinha sentido temperaturas de -10, talvez -15 em outros países. E tinha a falsa ideia de que abaixo disso era tudo igual. Não é mesmo. Dá para saber muito bem se a temperatura está em torno de -10, -20, -30 ou -40. Tem muita diferença. Também não tínhamos noção do tanto que neva neste lugar. Meu Deus, parece que toda a neve do mundo cai em Montréal. Cansei de fazer posts sobre isso por aqui. Abrir a porta de casa e ter um metro e meio de neve na calçada é assustador. Se fosse só por alguns dias, sem problema. Mas entre dezembro e março é assim direto, sem trégua.

E imigrante recém chegado fica um terror no inverno. A gente não sabe onde comprar roupa e também não quer gastar muito. Aí a gente compra umas roupas e botas de inverno horríveis. Com o passar dos anos vamos aprendendo a comprar umas mais eficientes, mais leves, mais bonitas e de melhor qualidade. Elas custam mais caro mas valem a pena.

Mas de todos os desafios, o maior é realmente o emprego.

Ninguém gosta de fazer entrevista de emprego. Imagine em outra língua! Imagine contar todo o seu currículo em outra língua. Só quem já passou por isso sabe como é difícil no começo.

E existe uma grande possibilidade que você não consiga o emprego que deseja e precise procurar em outras áreas, empregos mais “simples”.

Já ouvi muita gente dizer “se eu fosse para o exterior, trabalharia com qualquer coisa”. Não é assim. É muito frustrante você ter que trabalhar num emprego que no seu país você nem pensaria em procurar. Mas ao mesmo tempo só você sabe tudo o que você passou para conseguir aquele emprego “mais simples”. E as pessoas que ficaram no Brasil às vezes não entendem porque você está fazendo aquele tipo de trabalho.  Eu não tive esse problema, pois consegui o emprego que procurava. Mas milhares de imigrantes passam por isso por muitos anos até conseguirem o emprego que procuram ou até desistirem.

Posso afirmar que a satisfação profissional está no top 3 das variáveis mais importantes e que determinarão se você vai continuar ou voltar pro seu país.

A maioria dos imigrantes também sofre com a distância da família e amigos. Para alguns, isso pode ser muito difícil também. Amigos, pelo menos, você acabará fazendo por aqui.

Quando a coisa começa a se estabilizar, é uma boa fase. Vem a compra da sua própria casa, vêm os filhos, etc. A vida fica mais normal.

Mas ainda assim, uma hora você está feliz, outra nem tanto (principalmente no inverno).

Só imigrantes sabem a montanha russa de emoções que é viver em outro país. As conquistas são 100 vezes mais louváveis, mas também os fracassos são mais decepcionantes. Um dia você pode estar feliz e sua esposa não. Ou vice-versa. É preciso muita sabedoria para controlar as emoções e evitar que elas prejudiquem o relacionamento com as pessoas que você ama.

E, de repente, quando você se dá conta, já se passaram 6 anos, como é o nosso caso.

Estamos casados há 10 anos. Então já ficamos juntos mais tempo aqui do que no Brasil. Já moramos mais tempo na nossa casa daqui do que no apartamento do Brasil. Nossas filhas são canadenses e agora, nós também!

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